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O Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) é uma modalidade de atenção à saúde que proporciona cuidados no ambiente domiciliar, oferecendo uma alternativa ao atendimento hospitalar (ou nas UBSs- Unidades Básicas de Saúde) para pacientes que necessitam de cuidados prolongados ou de menor complexidade. Nesse contexto, o papel do nutricionista é essencial, pois envolve a avaliação e o planejamento de intervenções nutricionais que impactam diretamente na recuperação e na qualidade de vida dos pacientes.

Experiência no SAD: Uma Perspectiva Profissional

Durante minha atuação como nutricionista no SAD de duas prefeituras mineiras, pude vivenciar de perto os desafios e as conquistas dessa área. Cada visita domiciliar é única, e o contato direto com o paciente e sua família/cuidadores proporciona um entendimento mais profundo de suas necessidades individuais. Esse modelo de atendimento permite a criação de planos alimentares personalizados, ajustados às condições clínicas, sociais, financeiras e culturais de cada pessoa.

O Papel do Nutricionista no SAD

A atuação do nutricionista no SAD abrange diferentes frentes, todas voltadas à promoção da saúde e à prevenção de complicações. Entre as principais funções estão:

1. Avaliação Nutricional

O primeiro passo é a realização de uma avaliação nutricional detalhada. Esse processo inclui:

  • Coleta/estimativa de dados antropométricos (peso, altura, índice de massa corporal, circunferências corporais e pregas cutâneas);
  • Exame físico (análise das conjuntivas, verificação de presença ou ausência de edema, ascite, desidratação, composição corporal e sinais de possíveis carências nutricionais);
  • Avaliação da composição corporal e do estado clínico;
  • Diagnóstico Nutricional (com base em todos os parâmetros observados);
  • Investigação de hábitos alimentares e histórico de saúde.

A avaliação serve como base para a elaboração de intervenções direcionadas.

2. Planejamento de Dietas Personalizadas

Com base na avaliação, o nutricionista elabora planos alimentares que atendem às necessidades específicas de cada paciente. Isso pode incluir:

  • Dietas para controle de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e insuficiência renal;
  • Recomendações para prevenção ou tratamento da desnutrição;
  • Planejamento de dieta enteral (para pacientes acamados ou não, que não conseguem se alimentar mais por via oral, ou precisam de um suporte de enteral junto à oral);
  • Prescrição de orientações especializadas (via oral ou enteral) para situações clínicas como lesões por pressão (LPP), câncer, obesos, acamados desnutridos, transplantados (de fígado, rins, coração, etc.).

3. Educação Alimentar e Nutricional

O trabalho do nutricionista também inclui a orientação de pacientes, familiares e cuidadores quanto à importância de uma alimentação adequada (seja pela via oral, em qualquer consistência de dieta – geral ou livre, branda, pastosa, cremosa ou líquida – e/ou em uso de dieta enteral). Essa educação promove a autonomia e a adesão ao tratamento.

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4. Monitoramento e Ajustes

O acompanhamento contínuo é fundamental para avaliar os resultados obtidos e realizar os ajustes necessários no plano alimentar. Esse processo garante a melhora/manutenção do estado nutricional e a prevenção de complicações, diminuindo os riscos de internações e óbitos.

Após os atendimentos domiciliares (home care), voltava para as UBSs e registrava-os no sistema do SUS (e-SUS), para comparação dos dados numa próxima visita domiciliar, assim como para que os demais profissionais da saúde tivessem acesso as condutas nutricionais

Benefícios do SAD para a População

O SAD oferece inúmeras vantagens tanto para os pacientes quanto para o sistema de saúde, entre elas:

1. Conforto e Bem-Estar

O atendimento domiciliar proporciona conforto e tranquilidade, especialmente para pacientes idosos, com mobilidade reduzida (como cadeirantes, os que utilizam andador ou bengala) ou totalmente restritos ao leito (acamados: obesos mórbidos, com lesões na “bacia”, vítimas de TCE- Traumatismo Cranioencefálico, de acidentes, com danos neurológicos graves, pacientes que tiveram AVC- Acidente Vascular Cerebral ou Alzheimer nos últimos estágios). Estar em casa, cercado de familiares e em um ambiente conhecido, favorece o bem-estar emocional e pode acelerar a recuperação.

2. Humanização do Atendimento

O contato direto com o paciente e sua família permite a construção de uma relação de confiança e cuidado. Essa abordagem humanizada é fundamental para o sucesso do tratamento.

3. Desafoga o Sistema Hospitalar

Ao oferecer suporte em casa, o SAD reduz a necessidade de internações hospitalares prolongadas, liberando vagas para casos de maior complexidade, bem como evitando idas às UBSs, facilitando situações de deslocamentos dos pacientes (que costuma ser algo difícil para algumas famílias, seja por motivos financeiros ou pela dificuldade de locomoção do paciente em si – principalmente, dos acamados, em uso de sonda vesical ou enteral, etc.).

4. Prevenção de Complicações

O acompanhamento regular no domicílio permite a detecção precoce de complicações e a intervenção imediata, prevenindo agravos à saúde.

Desafios da Atuação no SAD

Embora os benefícios sejam muitos, o trabalho no SAD também apresenta desafios, como:

  • Limitações estruturais: Nem sempre as residências possuem condições ideais para a realização de procedimentos ou acompanhamento. Mas, com muita criatividade e vontade, as equipes multiprofissionais buscam estratégias para tal.
  • Adesão ao Tratamento: Convencer pacientes e familiares a seguir as recomendações pode ser desafiador, especialmente em situações de resistência a mudanças nos hábitos alimentares (ou do preparo ou administração correto de uma dieta enteral, por exemplo).
  • Interdisciplinaridade: A coordenação entre diferentes profissionais pode ser complexa, mas é essencial para garantir um cuidado integral. É justamente essa gama de profissionais (nutricionista, técnico de enfermagem, enfermeiro, fisioterapeuta, médico, fonoaudiólogo, entre outros) que faz do SAD um atendimento de excelência, mesmo fora do ambiente clínico-hospitalar.

Conclusão

O trabalho do nutricionista no SAD é indispensável para a promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Por meio de um cuidado individualizado e humanizado, é possível atender às demandas específicas de cada pessoa (em qualquer faixa etária e condição de saúde), contribuindo para a recuperação e prevenindo complicações.

Ter atuado no SAD em duas prefeituras foi uma experiência enriquecedora, que me permitiu compreender e atuar na prática sobre a importância desse serviço para a população e para o sistema de saúde como um todo. O atendimento domiciliar é uma demonstração concreta de como a saúde pode ser acessível, eficiente e acolhedora, impactando positivamente a vida de quem mais precisa.

Você trabalha no SAD, tem interesse de trabalhar ou é paciente (familiar ou cuidador) que já recebeu esses cuidados gratuitos? Me conta aqui nos comentários!